terça-feira, 22 de dezembro de 2009

REYNALDO MOURA E AS PUBLICAÇÕES NA IMPRENSA


Vasculhar as prateleiras do Acervo de Reynaldo Moura significa descobrir uma riqueza de conhecimento. Na classe “Publicações na Imprensa” o pesquisador poderá conhecer Reynaldo Moura por meio de jornais e revistas. São centenas de textos publicados por ele e sobre ele, textos literários e jornalísticos que revelam o escritor de crônicas e comentários que nos editoriais de grandes jornais sulinos marcou e registrou a história gaúcha.

O jornalismo do início do século XX dedicava parte do seu espaço gráfico para discussões literárias e culturais. Características predominantes do labor jornalístico atual como a objetividade, a precisão e a atualidade, informar o máximo em curtos parágrafos, eram desconhecidas dos editores e redatores da imprensa. Textos longos, de linguagem elaborada escritas para um público seleto preenchiam as páginas dos jornais. As folhas e cadernos literários dedicavam-se a avaliar e comentar livros de escritores gaúchos. É possível encontrar no acervo, notas críticas e ensaios que elogiam, analisam, descrevem e indicam obras de Reynaldo Moura.

A cada lançamento do escritor, inúmeras folhas rio-grandenses veiculavam um olhar e um julgamento sobre os escritos.Cada palavra escrita sobre o escritor desvenda um pouco da sua identidade, bem como conserva documentos importantes para memória e biografia de Reynaldo Moura. As resenhas de obras são relacionadas com o contexto histórico, político e econômico, as quais permitem que o estudioso mergulhe no passado vivido pelo escritor. As publicações sobre Reynaldo Moura não são apenas um conjunto de papeis velhos de assuntos esquecidos. Muitas se universalizam quando enfocam a literatura que trabalha o comportamento, o cotidiano e o pensamento humano.

Para exemplificar, confira trechos de textos assinados por jornalistas e intelectuais da mídia impressa rio-grandense na primeira metade do século XX:

“No convívio diário da mesa de imprensa, Reynaldo surpreende sempre, pela forma muito sua de ver as coisas. Pela forma espontânea e fluente como escreve, revestindo de roupagens aristocráticas os assuntos mais plebeus. [...] Na rua, debaixo daquele chapeuzinho quase gris, desabado sobre os olhos – ele passa sem sentir o contato da multidão. Não toma o mínimo interesse pelos assuntos mundanos. Olha espantado para os que discutem futebol ou gesticulam impressionados pelos lances do Box. Para ele, tudo isso é um outro mundo, em que ele deixou de viver. “ Texto de Manoelito de Ornellas, publicado na Revista do Globo, no dia 11 de julho de 1936.

“Apesar de tudo, porém, ‘Um rosto noturno’ classifica-se entre as melhores novelas brasileiras, entre aqueles produtos da ficção nacional que mais se aproximam da universalidade, que é o timbre e a condição de sobrevivência do romance. De fato a principal qualidade do Sr. Reynaldo Moura como ficcionista é a amplitude de seu poder humano, é o sentido universal de sua obra, é a sua capacidade – suprema virtude de um escritor – de interessar homens de época e lugares os mais diversos.” Texto de Wilson Martins, publicado na Folha da Manhã, no dia 28 de julho de 1946.

“O autor vinha se dedicando á narrativa interiorizada, abordando o mistério da vida cotidiana quase numa atmosfera da novela de “suspense”. As últimas novelas de Reynaldo Moura estão acentuadamente caracterizadas por um estilo prolixo que deixava aflorar uma temática específica – o submundo das grandes cidades e a força das paixões que movem suas tragédias.” Texto de Cremilda de Araújo Medina, publicado na Revista do Globo, no dia 14 de agosto de 1965.