A coleção de obras do escritor rio-grandense, recebe, hoje mais uma obra. Uma encadernação de 1936, editado pela Livraria do Globo, repleta de minuciosas descrições sobre a estação que encantava Reynaldo Moura.
Um pequeno fragmento foi retirado das páginas do livro e pode ser lido conforme a ortografia original:
INGENUIDADE
Aqui no último andar do arranha-céu,
A sêde azul das minhas retinas
Paira por cima das neblinas,
Bebe fréchas doiradas na distancia
Pela rosa inicial das madrugadas.
Aqui no silêncio suspenso,
Fim de viagem vertical,
A minha solidão é uma asa sobre o mundo.
Aqui só chegam vozes de radio,
Vozes que veem deste imenso intervalo
Acustico.
Desta rutilancia aérea
Cheia de palpitações invisíveis,
Que circunda como uma redoma
A minha ilha de cimento alto.
Muitas vezes, na insonia d'alvorada,
Tenho desejos vagos, divinamente misteriosos,
De ouvir uma serenata
(violões a soluçar em noites provincianas
sob a tontura telescopica
do meu arranha-céu)
Desejos cheios de saudade
De puerilidade
De lembranças longincuas
Infantis
De ouvir do alto da minha solidão armada
A voz triste dos galos
Sob a rosa fria da madrugada.
Arranha-céu!
Rumor abafado, veloz, sereno
Dos Otis iluminados.
Dentro da noite a cidade lá em baixo,
Silênciosa, é um bazar de larvas luminosas
Deslisando,
Colorindo os canaes de vidro das ruas longas,
Entre as arvores embuçadas na sombra.
Arranha-céu:
Sosinho furando céu noturno,
Numa escalada para o sono das estrelas.