“Quando o soltaram da prisão, em 64, o escritor saiu com uma queixa e uma preocupação. A queixa, sua máquina de escrever tinha sido apreendida. A preocupação: ao que ele soubesse, nunca tinham devolvido a máquina de ninguém.” (Fragmento do texto de Ciro Martins para o jornal Zero Hora em 1992)
A exposição realizada hoje, no Saguão da biblioteca Central da PUCRS, para marcar os 45 anos de nascimento e 45 de morte do autor de Romance no Rio Grande, conserva a trajetória do escritor que publicou semanalmente no Jornal Correio do Povo, e foi redator e editor de A Federação, veículo oficial do Rio Grande do Sul .
Tendo como gênero principal a crônica, cunhou uma obra híbrida, que ao oscilar entre a ficção literária e a veracidade jornalística, produziu textos que constituem uma janela para seu tempo aos olhos dos novos pesquisadores.
A coleção reúne documentos e objetos pessoais, manuscritos e datiloscritos originais do autor, fotografias e publicações na imprensa. Quem passar pela mostra poderá conferir também a máquina datilográfica que foi levada pelo DOPS, em 1964.
O Acervo guarda detalhes das diversas faces de Reynaldo Moura, nele o poeta e romancista intimista, o tímido redator, o diretor da Biblioteca Pública do Estado e sócio-fundador da Associação Rio-grandense de Imprensa estão retratados para que a comunidade acadêmica, literária e jornalística possam conhecer o escritor muitas vezes esquecido pelas novas gerações.
Poema de Reynaldo Moura publicado na Revista do Globo em 1941:
Mulher Nua
A água outonal é óleo azul transparente tranquilo
Sob o oiro da tarde inquieta entre os loureiros tristes
A solidão do parque estende sobre as tardes abandonadas
Um véu de silencio melancólico
Branco e profundo como o movimento ascendente de uma medusa
Quase velado pelo virdro azulado das águas
O corpo nú vem ascendendo e destrói a placidez da piscina
Crea na superfície pétalas de ondas
Agita a lâmina fugitiva do silêncio das águas
O corpo nú ondula a flor das águas que acordaram
O corpo alvo e brilhante está ágil e úmido
E de novo submerge
Entre ele e a tarde de oiro o azul líquido de novo escorre
Afunda mais
Brancos tentáculos relembram
Entre o escuro e o fundo e a flor azul das águas
No marulho mole dos pequenos turbilhões irisados
O movimento lento de uma medusa
Na câmara lenta e lânguida do aquário
Na trade outonal os loureiros tranquilos
Estão doirados sobre a sonolência
Que véla o parque abandonado