segunda-feira, 23 de agosto de 2010

MOSTRA MARCA OS 110 ANOS DE NASCIMENTO E 45 DE MORTE DE REYNALDO MOURA



“Quando o soltaram da prisão, em 64, o escritor saiu com uma queixa e uma preocupação. A queixa, sua máquina de escrever tinha sido apreendida. A preocupação: ao que ele soubesse, nunca tinham devolvido a máquina de ninguém.” (Fragmento do texto de Ciro Martins para o jornal Zero Hora em 1992)


A exposição realizada hoje, no Saguão da biblioteca Central da PUCRS, para marcar os 45 anos de nascimento e 45 de morte do autor de Romance no Rio Grande, conserva a trajetória do escritor que publicou semanalmente no Jornal Correio do Povo, e foi redator e editor de A Federação, veículo oficial do Rio Grande do Sul .


Tendo como gênero principal a crônica, cunhou uma obra híbrida, que ao oscilar entre a ficção literária e a veracidade jornalística, produziu textos que constituem uma janela para seu tempo aos olhos dos novos pesquisadores.

A coleção reúne documentos e objetos pessoais, manuscritos e datiloscritos originais do autor, fotografias e publicações na imprensa. Quem passar pela mostra poderá conferir também a máquina datilográfica que foi levada pelo DOPS, em 1964.



O Acervo guarda detalhes das diversas faces de Reynaldo Moura, nele o poeta e romancista intimista, o tímido redator, o diretor da Biblioteca Pública do Estado e sócio-fundador da Associação Rio-grandense de Imprensa estão retratados para que a comunidade acadêmica, literária e jornalística possam conhecer o escritor muitas vezes esquecido pelas novas gerações.



Poema de Reynaldo Moura publicado na Revista do Globo em 1941:










Mulher Nua


A água outonal é óleo azul transparente tranquilo

Sob o oiro da tarde inquieta entre os loureiros tristes

A solidão do parque estende sobre as tardes abandonadas

Um véu de silencio melancólico

Branco e profundo como o movimento ascendente de uma medusa

Quase velado pelo virdro azulado das águas

O corpo nú vem ascendendo e destrói a placidez da piscina

Crea na superfície pétalas de ondas

Agita a lâmina fugitiva do silêncio das águas

O corpo nú ondula a flor das águas que acordaram

O corpo alvo e brilhante está ágil e úmido
E de novo submerge

Entre ele e a tarde de oiro o azul líquido de novo escorre

Afunda mais

Brancos tentáculos relembram

Entre o escuro e o fundo e a flor azul das águas

No marulho mole dos pequenos turbilhões irisados

O movimento lento de uma medusa

Na câmara lenta e lânguida do aquário

Na trade outonal os loureiros tranquilos

Estão doirados sobre a sonolência

Que véla o parque abandonado































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