quarta-feira, 14 de abril de 2010

A poesia do Outono de Reynaldo Moura




A coleção de obras do escritor rio-grandense, recebe, hoje mais uma obra. Uma encadernação de 1936, editado pela Livraria do Globo, repleta de minuciosas descrições sobre a estação que encantava Reynaldo Moura.



Um pequeno fragmento foi retirado das páginas do livro e pode ser lido conforme a ortografia original:


INGENUIDADE


Aqui no último andar do arranha-céu,

A sêde azul das minhas retinas

Paira por cima das neblinas,

Bebe fréchas doiradas na distancia

Pela rosa inicial das madrugadas.

Aqui no silêncio suspenso,

Fim de viagem vertical,

A minha solidão é uma asa sobre o mundo.

Aqui só chegam vozes de radio,

Vozes que veem deste imenso intervalo

Acustico.

Desta rutilancia aérea

Cheia de palpitações invisíveis,

Que circunda como uma redoma

A minha ilha de cimento alto.

Muitas vezes, na insonia d'alvorada,

Tenho desejos vagos, divinamente misteriosos,

De ouvir uma serenata

(violões a soluçar em noites provincianas

sob a tontura telescopica

do meu arranha-céu)

Desejos cheios de saudade

De puerilidade

De lembranças longincuas

Infantis

De ouvir do alto da minha solidão armada

A voz triste dos galos

Sob a rosa fria da madrugada.

Arranha-céu!

Rumor abafado, veloz, sereno

Dos Otis iluminados.

Dentro da noite a cidade lá em baixo,

Silênciosa, é um bazar de larvas luminosas

Deslisando,

Colorindo os canaes de vidro das ruas longas,

Entre as arvores embuçadas na sombra.

Arranha-céu:

Sosinho furando céu noturno,

Numa escalada para o sono das estrelas.




Um comentário:

  1. Ainda bem que preciosidades do gênero são retiradas da gaveta e são transpostas para a atualidade. Esse é o profundo papel da Memória. E também a importante função da tecnologia: o que é belo tem que se mostrar...
    Parabéns pela pesquisa.

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