quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PESQUISAR E RESGATAR A HERANÇA DE UM ESCRITOR GAÚCHO


A oportunidade de um aluno da graduação, principalmente cursando jornalismo, de trabalhar e aprender com um Acervo é enriquecedora. O aluno, o professor orientador, o projeto, a universidade e a sociedade firmam um laço onde a troca de conhecimentos é mutua. A relevância do acervo para a construção do saber científico, para a formulação de bases históricas e compreensão do pensamento e comportamento passado, é muito ampla.


Uma personalidade como Reynaldo Moura deixou um legado insubstituível. Na literatura publicou romances, novelas e poemas, no jornalismo foi crítico, observador e diagnosticador da realidade. Avaliou e informou o público sobre os maiores nomes da literatura mundial; conquistou espaços nas colunas de grandes jornais para debates e questões existenciais; denunciou crueldades e injustiças a respeito do período vívido; e por fim, desenhou nas páginas da imprensa gráfica rio-grandense o perfil do homem do início do século XX, os seus interesses, dúvidas, certezas e receios.

Os materiais que hoje se encontram catalogados e organizados podem ser consultados por pesquisadores que descobrirão ali um novo olhar sobre o período que não está nos manuais de história contemporânea. As grandes guerras, o medo coletivo em vista dos acontecimentos, o sentimento de esperança das massas, a cultura francesa prejudicada pela invasão alemã a fragmentação do homem diante do surgimento de tecnologias de difusão como o rádio e o cinema. Tudo isso Reynaldo Moura registrou em suas crônicas, sobretudo no jornal Correio do Povo.

Além do material publicado por ele, existem textos e críticas sobre o jornalista e escritor. As referidas, opinativas e descritivas, identificam o estilo de Reynaldo Moura, informam sobre sua produção, relacionam obras, contextualizam o livro tanto pelo aspecto midiático quanto histórico, informam sobre a biografia do escritor, bem como aspectos da vida de um grupo de intelectuais engajados. As entrevistas com o escritor facilitam o entendimento da personalidade do titular do Acervo.

Cuidar, preservar, organizar e estudar nos itens contidos no Acervo de Reynaldo Moura significa não somente aprender sobre uma realidade histórica é também dar a possibilidade para que outros estudantes, pesquisadores e professores possam usufruir dessas fontes. Para isso, é preciso um constante trabalho de divulgação de materiais informativos. Somente assim, as pessoas poderão descobrir as infinitas possibilidades não imaginadas contidas nas palavras de Reynaldo Moura. A continuidade do trabalho no projeto se dará na digitalização de materiais que não estão presentes no Acervo, mas que são de fundamental importância para a pesquisa.


Um pouco da história do Acervo:

As obras de Reynaldo Moura, catalogadas e armazenadas junto a outros acervos como o de Moisés Velhinho e Ciro Martins andaram por muitos caminhos até se hospedarem nas estantes do Delfos. O interesse na descoberta do legado de Reynaldo Moura começou em 1984. Convidada pela professora Regina Zilberman a escrever um texto sobre o escritor, Maria Luiza Ritzel Remédios, então professora da Universidade Federal de Santa Maria, deu inicio ao estudo sob os itens do acervo.

Em 1990, Maria Luiza já estava vinculada ao curso de pós-graduação da PUCRS e ao Grupo de Pesquisa em Acervos Literários Brasileiros, desse modo o conjunto de trabalhos do jornalista foi transferido de sua cidade natal para Porto Alegre, onde começou a organização do Acervo Literário de Reynaldo Moura ou ALREM. A primeira etapa se deu através da coleta de materiais junto aos familiares e a catalogação dos mesmos. A família entregou a guarda do ALREM manuscritos da novela Intervalo passional e de poemas diversos, além de documentos e objetos pessoais.

A segunda etapa do projeto baseou-se na coleta da produção escrita publicada na imprensa realizada em arquivos públicos ou privados, bibliotecas públicas e particulares. As dificuldades para pesquisa nesses arquivos foram inúmeras, pois muitos estavam fechados para reformas e não permitiam a fotocópia de jornais e revistas. Assim, os textos eram copiados a mão, digitados e logo confrontados com o original. O acervo de Reynaldo Moura se difere dos demais pela necessidade de trabalho de campo. Ainda é preciso deixar as salas da Biblioteca Central da PUCRS para desvendar os textos publicados em outros jornais, como A Federação, de grande importância para a cultura e para o jornalismo gaúcho.

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